13 fevereiro 2008

IIheu das Rolas

Este é o apêndice sul de S. Tomé. É mais um recorte de verde abundante em terra cercada de azul, rochedos, falésias, areais pintados de carroceiros e mãe natureza a germinar sem limites. Esta fotografia diz-vos o como ‘cai coco nasce coqueiro”, e a cada passo em todo o espaço.Vim aqui parar por ter sido a oportunidade, de outra forma não se repetiria. O mega Resort Pestana é um sonho muito distante do real neste país, tanto que impressiona, que choca, que magoa. Paguei por uma noite 100 euros, tanto que dava para alimentar uma família (e destas enormes) durante certamente um mês. Tivemos o privilégio de estarmos sozinhos, nós e um casal daqueles estranhos e habituais de encontrar nestes espaços (estrangeiro velho e rico e indígena jovem e consolada), por isso aproveitei cada segundo, sugando todas as possibilidades desta aventura aparentemente mais “segura”. Deitei-me tarde a ver as estrelas, a mergulhar na piscina, a caminhar nos passadiços iluminados,…levantei-me cedo para ver o sol nascer, passear e descobrir os miradouros surpresas, conversar mt com os funcionários do hotel, sempre só eu. Foi tão bom e tão importante a parte do eu, e só por isto valeu esta experiência mais vip. Tempo para sentir o sentir, para só olhar o céu, absorver o real, ouvir e entristecer, e pensar em como é tão injusto, tão cruelmente injusto. Dou-vos como exemplo um destes meninos da animação, aqueles que cantam, dançam, apelam como se a sala estivesse cheia e para quase sempre ninguém,…e inventam alegria, e disfarçam animação, e funcionam mecanicamente como se a cada passo destruíssem o que ainda resta de genuíno, apaga-se o brilho no olho, mata-se o espontâneo, morre-se. O Márcio. Veio da cidade, tem 19 anos e deixou a escola no S. Tomense 10º ano. Trabalha e vive aqui, nesta ilha minúscula e sufocante. Tem um dia de folga por semana e é controlado a cada segundo e milímetro de acção. Ganha 30 euros por mês…. Com este dinheiro ajuda a família e vai à cidade num cansativo dia semanal. E pronto. Foi este moço que nos levou a dar a volta a ilha, foi ele que nos acompanhou discretamente, e foi ele que se abriu de amargura e tristeza e nos levou a caminhadas silenciosas só de respeito, só de ’’meu deus’’. Falou se sonho, falou de vidas, de mortes, do povo, de nós. Também pediu para ouvir,… “Rita, nem sempre que o S. Tomense ri é de alegria, a maior parte das vezes, é só outra forma de chorar”. No ilhéu das rolas existe (ainda) uma povoação minúscula com tendência a desaparecer. Segundo o que consegui entender estão a ser expulsos. Correndo o risco de estar errada…, o grupo pestana tem-se mexido para ser exclusivo daquele ilhéu, então tudo que é nativo e pobre, e pode assustar ou perturbar o turista, e vive em barracas e toma banho no mar, sai, tira-se, mata-se, e já está! Já poucos restam, tiraram-lhes a luz, a agua, e a terra está por um fio. Na noite em que dormi no ilhéu, terminei o jantar e fui caminhar, aproveitando a luz e a noite e o mar ao lado e as estrelas nítidas no céu. Enquanto me afastava do som horrível das colunas de animação (ridiculamente a bombar só para nós) pude perceber uma vozes loucas de mulheres entre sons de percussão, daqueles chamamentos de tribo que não dá para explicar e tive que ir. Mas a escuridão da noite daquele lado e a distancia cada vez mais presente à medida que nos afastamos do resort intimidou. Fui a uma das barracas com luz e pedi companhia até lá. O susto, o medo, o desconhecido, desapareceram mal entrei na rua. Eram 6 raparigas mulheres e 3 rapazes homens, eles tocavam em latões e tábuas e elas cantavam como nunca ouvi e dançavam como não vos posso contar. E era só. Sentei-me no chão e fui completamente e absolutamente levada dali ou somente deixada ali. Nem uma luz, nem uma fogueira, nem uma vela, apenas o luar e o recorte das palmeiras por cima, e as formas das barracas de tábuas improvisadas entre, e de perto as silhuetas dos corpos a explodir e as vozes a sair e a entrar como quem luta para fugir, como quem vive para se prender. Sentei-me no chão e sorri. Não havia luz, não havia fogueira, não havia vela, e este foi o momento mais iluminado ate aquela altura.

5 comentários:

Sofia disse...

Não tenho palavras para esses sorrisos de felicidade.... e tu também não... por isso não escreves texto :) tu aí no paraíso e eu aqui no inferno em frente ao meu computador....

Unknown disse...

Ritinha

Não podia deixar de te dizer, depois de ler a tua prosa poética, que deves ponderar explorar essa forma original de comunicar...É um realismo muito sentido, uma escrita feita com o coração,uma apropriação feliz de palavras em frases muito ricas! Os locais que "penetras"- e com que avidez - também te inspiram.
Tudo de bom para ti
Domingas, tua ex prof...

rose disse...

Riiiiiiiiiiiiiiiiiiii ai k saudades dessa terra, dessas praias, dessa gente...
Dá um abraço ao Reginaldo aquele menino de sorriso doce que subia aos coqueiros e logo ali partia os cocos com a sua catana, para nos matar a sede!!!E o sabor das bananas no meio da slva?!!!
Impossível! TERRA-MÃE!!!
xi coração

Shiva disse...

Sem comentários.....tb quero....gggrrrrrrr....bjinho lindo cm tu!

micas coxa disse...

Comecei pelo fim!Ih!Ih!
És mmo demais! Os cenários k pedes para por atrás de ti só para tirares fotos!...