16 fevereiro 2008

Norte mais norte

Tentando não me desmentir, não me lembro de ter dormido verdadeiramente bem em S. Tomé. Ou pelo menos acordado bem. Principalmente na casa onde fiquei o maior tempo da minha estadia. Custou-me a identificar porquê. Misturava-se o calor húmido, o constante abafanço, as mordidelas de mosquitos, os sonhos tão reais, as confusões cá por dentro,… e o som da vassoura pela casa que quase nunca chegava às 5:30h da manhã, e as vozes de comando a passar a gritaria, “já limpou a casa de banho? Vai despejar o lixo! Vai buscar o pão! Dá de comer às galinha! Esfrega bem essa panela! Já tomou banho? Limpa meu sapato! Vai buscar meu pente! Vai comer sentado? Ainda não bebeu o chá? Logo quando chegar quero essa semente toda limpa!...” e o girar calado, cego, amedrontado de quem nem sequer tinha acordado, nem dormido, nem sabido a diferença entre um e outro. E são crianças.
Crianças que só lhes pude ouvir a voz e ver o sorriso quando cheguei a casa e não estavam os donos da mesma, dos mesmos. Abri o portão e vi uns olhinhos à espreita da porta do anexo dos fundos, e então os olhos brilharam, os sorrisos apareceram e elas correram para me abraçar. Sem dizer nada. Sabia que por mim tinha que sair dali, e como dava tudo para as trazer comigo, e como ao mesmo tempo queria não ter que ir, só para às escondidas, aquele sorriso lindo e prisioneiro poder sacar.
Acordei no sábado com a mesma azáfama da casa. Toda a gente saiu e eu também, apesar de não saber ao certo para onde. Precisava sair, precisava escrever, precisava explodir. A roupa já colada, os olhos carregados, liguei o mp3 e deixei-me conduzir pelo bairro abaixo. O caminho de terra batida, os olhares que se cruzam no passar, os gestos que se transformam num dançar, e então sinto-me a apreciar, sinto-me presente, sinto que vejo, que me vêem, que ando, que estou ali, como tanta gente, sinto-me. Sentei-me numa esplanada para tomar café e pus-me a escrever. Que vontade de desabafo, que bom estado de espaço! Pouco tempo depois recebi a msg “temos carro, toca a despachar”. O Miguel e o Henrique tinham descoberto o truque milagroso para o ressuscitar do jipe, e sem contar, sem planear e nem preparar nada de especial, estávamos os quatro a arrancar para uma investida de descoberta do e no norte.Posso-vos falar da “savana”; da praia das conchas; da lagoa azul; das santolas das Neves; da roça Monforte; do projecto em Diogo Vaz; da estrada linda de braço dado ao mar; das palmeiras cor de laranja; de S. Catarina; do fim da estrada; de como nos rimos, de como nos conhecemos, da conversa ao luar, de como nos demos, de como nos admiramos, de como não nos conhecíamos e simplesmente fomos, sem levar nada connosco, sem sermos ninguém e ao mesmo tempo tudo de especial, e ali construímos tudo, e como vivemos tão bem e aproveitamos tanto a companhia uns dos outros. E foi só deixar ir, mais uma vez, sempre, e chegar a sorrir.

4 comentários:

Kate disse...

Oi minha Rita,
Estou quase a sair da escola (reuniões + reuniões)mas n resisti a dar aki 1 pulinho só para ver s havia novidades.
Deixei-me ficar aki + um tempo a ler e a interiorizar os teus últimos relatos.
N pude deixar d m entristecer c alguns dos pormenores k nos deixaste, mas fikei radiante em saber k daki a uma semana t vou poder ver!
Beijo grande minha amiga!

SU disse...

Tu ja vens???K rapido!!!Mas claro k fiko super contente.
Bjcs
Su

Shiva disse...

Gajona....cá te aguardamos de braços e sorrisos abertos.....pra sabermos todos os pormenores e pra recebermos todos os aromas.....o chico daniel manda-t um grande bj....
Té sexta, more lindo!!!

FabíolaFernandes disse...

que delícia ler as cores e os sorrisos que adivinho das tuas viagens.
como haverás inspirado tantos e tantos ventos que se cruzaram contigo...!
sim, espero ter-nos um bocadinho daqui a pouquinho tempo. gosto de ti, coração.