15 fevereiro 2008

Fotografias

Cada vez é mais difícil fotografar. Nesta viagem a máquina pouca companhia me fez. Talvez pela sorte de encontrar tantas e boas companhias, talvez simplesmente pela imagem que se nega a registar. São imagens sem tempo e sem espaço para serem tiradas. Só pertencem ao aqui e agora, e para nós viajantes, que procuramos a cada momento aqui mais pertencer, não temos direito a tomá-las, e ao faze-lo cada vez mais nos distanciamos, cada vez menos percebemos, cada vez menos vivemosCada olhar mais profundo, cada gesto mais natural de rua (carregar a cabeça com volumosa carga, agachar para arranjar o bebe, parar a olhar, urinar em cada esquina, fazer comida num pequeno fogo, comer em pedaços de lata, descascar fruta, discutir acesamente, vender e querer vender, e o pedir “amiga”, Doce”), e se não o virmos como natural assusta, intimida, afasta, e não vale a pena.
Basta olhar de igual e de natural e os encontros fazem-se, e afinal entendemo-nos, e afinal pertencemos, e temos casa. E passamos nas ruas, e sentamos nos bancos de jardim, e descansamos no murinho junto ao porto de mar, e almoçamos nos sítios do povo, e andamos nos carros deles, e parámos no meio da rua e ficamos a conversar horas, e sentimos que fazemos falta, que eles fazem tanta falta, e rimo-nos com eles e choramos com eles, e chorarmos sozinhas. E este é um grande luxo do viajar.Descobrir, nos sítios por onde andamos, mais uma casa. De cantos e recantos preciosos, com pessoas fantásticas, com momentos sagrados,… e apreciar as coisas boas, e reconhecer as menos e más, e preocuparmo-nos, e cuidarmos, e termos espaço. E a nossa casa poder ser assim, grande, enorme, infinito campo de descobertas, de crescimentos, de frustrações mais ou menos conscientes, de descansos, de cansaços.
S. Tomé
Estradas vergonhosamente esburacadas, empresas e rocas abandonadas, cidades descuidadas, meninos e graúdos viciados (branco dá), calor de abafar, mosquitos de irritar, gente diferente e igual. E tão pequeno S. Tomé. E o difícil de nos encontrarmos com tanto desencontro, e o fácil de nos perdermos com estes encontros.

5 comentários:

micas coxa disse...

atom cachopa, num dissessesses nada e já fossesses outra vez... cum carai...que bidinha de seca...sempre a viajar...havia de ser eu... adiberte-te

Joana Teixeira Nunes disse...

Consigo compreender a profundeza de cada uma das tuas palavras que me fazem chorar... e sorrir... E surge a nostalgia de uma vivência tão grandiosa e tão profunda, tão semelhante e, ao mesmo tempo, tão diferente da tua. Acompanho a tua história... S. Tomé está no centro do mundo e leva-nos ao centro do nosso mundo interno. É incrível perceber como a abertura é a chave para receber as dádivas dessa terra maravilhosa. E não falha, com ninguém. Repara que te escrevo isto no texto "Fotografias". Porque será? Beijos grandes preta boa.

Joana Teixeira Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sara disse...

ana rita!!! eu ate criei a minha milesima conta aqui no mundo dos blogues pa te dizer k estou M A R A B I L H A D A pah!!!! fotos e textos lindos!!! parabens miga. parabens tb por essa evoluçao do ser pela qual estas a passar!! eu é que tb tou mesmo a precisar de algo assim! beijo grande.

Sofia disse...

Rita amiga... que saudades .. chegas na sexta! Aí já podemos falar de todas as tuas experiências :) Tenho saudades tuas. Diz mas é ao certo a que horas chegas e quando nos vamos encontrar :)