13 fevereiro 2008

Já vai ao tempo,

Não escrevo desde que desci. Passaram-se dez dias, e são desses mesmos e do que eles me fizeram que vou tentar agora “ressaltar” (como dizia um senhor entrevistado no canal tão nacional da televisão S. Tomé).
Hoje é dia 11, segunda feira e escrevo-vos da Roça de S. João. Acabei de almoçar deliciosamente e desde este tão imenso, simples e humanamente balcão sobre a baia de Sta. Cruz de Angolares, envolvida toda ela de verde e azul e sons da quinta e humidade do ar, deixo-me nesta tranquilidade e cedo ao retiro do fora e do dentro e começo assim uma nova história. Deixei-vos no domingo, dia 3, feriado nacional em memoria às vitimas antepassadas deste povo desde sempre massacrado. 1953, massacre em Trindade também conhecido por massacre de Batepá, colonos e escravos, ano data início da revolta popular. Eu e a Barbara e mais as duas bicicletas, destino sul, transporte publico amarelo, plano para 3 dias e recursos materiais e financeiros controlados. A primeira aventura começou com a Hyace, o transporte mais económico e mais mágico que esta terra dispõe. Prontos a arrancar já lá estavam 9 adultos, 4 crianças, uma arca frigorifica, 3 bacias de legumes e frutas, sacos e baldes e mais coisas assim. Pedimos informação sobre o próximo horário e disseram-nos que aquele era o único carro, e então nós avançamos com o “acha que ainda podemos ir”? Após uma análise muito rápida e facilmente positiva disseram que iam tentar baixar um dos bancos para as bicicletas encaixarem e foi assim que calmamente iniciamos a nossa viagem. Mágico!!! E como é tão estupidamente fácil pensar Não,.. não há espaço para mais ninguém, Não,.. não vamos nós mais apertados e desconfortáveis, Não,... não nos vamos dar ao trabalho de baixar banco, apertar gente, encaixar crianças, demorar tempo... e aqui um não destes é raro, e parece magia. Demora-se tempo e sorri,.. vai-se sentado no chão ou numa roda das bicicletas e sorri, ... está um calor de derreter e sorri,... empurra, desvia, manobra e sorri, e assim seguimos os p´rai 15 passageiros, perfeitamente encaixadinhos, a cantar, a sorrir, uns a dormir, outros a beber, e nem por um momento surgiu um olhar de cobrança ou má disposição, e olhem que dificilmente poderíamos passar melhor aquela uma hora e meia. Chegamos a meio do caminho entre a cidade e o sul. Angolares. A Hyace amarela ficava aqui. Saímos na praça principal do município, minha nossa, que de rir! Num segundo se juntaram talvez metade dos habitantes da aldeia num consórcio informal organizado para nos ajudar na tarefa do como seguir caminho nós e as nossas duas bicicletas. Domingo não havia mais transporte para o sul. O momento na praça foi de filme, toda a gente se envolveu naquela preocupação e muito mais que nós, que para além daquele espírito confiante do anjinho, naquela altura já tínhamos fome e então fomos almoçar. Para trás ficou aquele espontâneo aglomerado humano e num aceno de obrigada montamos os nossos veículos e passámos para a surpresa seguinte: o almoço.. Aquela barraca azul naquele cercada de verde floresta, o sossego, a comida, a conversa, a cerveja fresquinha, as boleias que se propuseram, o bom astral de férias e de bons encontros estavam por lá, e depois de mais umas investidas ousadas e muito relaxadas à procura de como ir para Porto Alegre, distanciado a 35 km mas uma boa hora de viagem, lá seguimos e eram ai umas quatro e meia da tarde e lá estavam elas a chegar. Viajamos de bicicleta até à praia da Jalé acompanhadas pelo Vado na sua motorizada silenciosa, e esse foi mais um momento movimento cá dentro. A luz alaranjada e a névoa húmida do entardecer do sul, os caminhos limpos no que parecia antiga calçada portuguesa, o verde a comer o caminho, a assaltar o céu, a brotar onde já não parece haver espaço, o ar a bater na cara, o sorriso companheiro da Bárbara, o espanto com tanto, a vigília protectora do vado, e a chegada à praia. A nossa casa.

Dali saímos na quarta feira com a certeza de voltar, e entre o tanto que lá vivemos, digo-vos que quando subi, isto na quinta-feira à noite, vim pasmada do que tinha mudado só pelas oportunidades do deixar e sentir mudar.

1 comentário:

Shiva disse...

Gaja boa.....montes d roças maravilhosas, não???? E esse chocolate melhor do mundo...hein...????? Sou uma chata do catano mas prontos...cho...co...la...te....cho...co....la....te......ihihihihi!!!
E o João Carlos Silva....o do programa Na Roça com os Tachos? Já lhe botaste os olhos em cima e botaste conversa? Que lindo.......põe música Kalu....!!!
Bjos ritissimos